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Eleições no Reino Unido | DESASTRE BATEU À PORTA DOS TORIES E DE TERESA MAY

May convocou eleições para se reforçar, mas acabou por perder a maioria

Depois de um dia a votos, as urnas no Reino Unido fecharam. Às 22h, as primeiras projeções (sondagem da BBC/ ITV/ Skynews) davam uma amarga vitória aos conservadores: Theresa May perde a maioria absoluta ao conseguir apenas 314 assentos parlamentares. Começa a falar-se na “coligação do caos” para fazer frente aos tories, que junta os trabalhistas aos nacionalistas escoceses e aos liberais democratas (todos juntos conseguem eleger exatamente os mesmo 314 deputados). A noite será longa e, para já, ninguém arrisca em fazer a festa

Projeções apontam para desastre eleitoral de May

A primeira-ministra antecipou as legislativas para ampliar a bancada parlamentar do Partido Conservador e reforçar o seu poder. Afinal, poderá perder maioria absoluta. E o lugar.

Theresa May poderá ter vencido as eleições britânicas desta quinta-feira mas perdido a maioria absoluta no Parlamento, segundo as projeções avançadas mal encerram as urnas, às 22h. A confirmar-se, será um resultado inesperado e desastroso para May, deixando tudo em aberto sobre quem ocupará a cadeira de primeiro-ministro e comandará as negociações com Bruxelas para o Reino Unido sair da União Europeia.

A sondagem à boca da urna feita para a BBC, Skynews e ITV aponta o Partido Conservador como vencedor das eleições, com 314 deputados na Câmara dos Comuns, menos 17 do que nas eleições de 2015 (331) e 12 assentos aquém da maioria absoluta (326). É um cenário oposto ao de sondagens anteriores, onde os conservadores surgiam a alargar a maioria que detinham.

O Partido Trabalhista ficaria, segundo as projeções, com 266 deputados – 34 a mais do que em 2015, um êxito do contestado líder Jeremy Corbyn. Também os Liberais Democratas ganhariam seis lugares, somando 14. Já o Partido Nacional Escocês (SNP) poderá sofrer uma grande quebra, com 34 deputados, 22 a menos do que em 2015, deitando por terra a pretensão de repetir o referendo à independência.

As projeções causaram enorme surpresa, com analistas políticos a considerá-las “chocantes” e a coçarem a cabeça para compreender o que significam. A libra chegou a cair até 2% face ao dólar e ao euro.

DE 20% DE VANTAGEM AO DESAIRE ELEITORAL

A previsão inicial baseia-se numa amostra de 30 mil eleitores, em 144 assembleias de voto. Tal como em 2015, revelam um resultado diferente das sondagens feitas durante a campanha. Quando convocou as eleições antecipadas, a 18 de abril (depois de ter dito sete vezes que não o faria), May tinha uma vantagem de cerca de 20% nos estudos de opinião.

Chegou-se a dizer que o Partido Conservador conseguiria mais 100 deputados do que todos os outros partidos somados. Na última legislatura, a maioria era de 17. Embora tal vantagem nas sondagens tenha caído nos últimos dias, ninguém esperava que May pudesse perder o comando da Câmara dos Comuns.

Assim que foram divulgados os números da projeção, o ministro da Defesa, Michael Fallon, disse à BBC que as projeções de 2015 tinham subestimado o desempenho dos conservadores. “Vamos esperar e ir vendo os resultados”, afirmou. Há dois anos, a sondagem à boca da urna não adivinhou a maioria absoluta de David Cameron, assegurada já de manhã.

John McDonnell. ministro-sombra dos trabalhistas para as Finanças, disse que a campanha conservadora foi “perniciosa” e que, a confirmarem-se a projeções, Theresa May ficará numa posição “insustentável”. O homem que tutelou a mesma área sob Cameron, George Osborne, sugeriu o mesmo.

REFORÇO DO BIPARTIDARISMO

“Estas projeções são notáveis. Se forem verdade, os conservadores estarão a pagar o preço do seu irresponsável jogo eleitoral”, afirmou, por sua vez, Caroline Lucas, líder do Partido Verde, que deverá conservar o lugar de deputada por Brighton Pavillion, o único do seu partido.

May pretendia obter um mandato claro para negociar a saída do Reino Unido da União Europeia, decidida pelos britânicos no referendo de 23 de junho de 2016. As projeções sugerem que o tiro pode sair completamente pela culatra, com um Parlamento dividido e até um possível governo de coligação da oposição que May esperava esmagar.

Segundo os números avançados, os trabalhistas, o SNP e os Lib Dems somam o mesmo número de deputados que o Partido Conservador. Basta o apoio de mais um partido – o Plaid Cymru (nacionalistas do País de Gales), por exemplo – para ultrapassar o número de deputados de May.

À uma da manhã de sexta, estavam eleitos 10 trabalhistas e seis conservadores, todos eles mantendo os lugares. As percentagens nos vários locais mostravam uma tendência de crescimento dos partidos principais (conservadores, trabalhistas e liberais) em detrimento dos eurocépticos (UKIP) e separatistas escoceses.

Newcastle Central foi o primeiro círculo eleitoral a declarar o vencedor, pouco passava das 23h, roubando o título da contagem mais rápida a Houghton and Sunderland Sul, que detinha o galardão nos últimos seis anos. Só durante esta madrugada de sexta-feira é que haverá resultados suficientes para avaliar se as projeções estavam certas.

Marta Gonçalves | Pedro Cordeiro | Joana Azevedo Viana | Ricardo Garcia | Expresso | Foto Toby Melville / Reuters

Corbyn: “A política mudou e não vai voltar para a caixa onde estava”

Após ter sido reeleito deputado, Jeremy Corbyn desafiou Theresa May a deixar o cargo de primeira-ministra, dando lugar a um Governo trabalhista, que seria “representativo das pessoas deste país”

O desafio foi lançado. Jeremy Corbyn convidou Theresa May a afastar-se da liderança do Governo para dar lugar a um Executivo trabalhista. Esta sexta-feira de madrugada, após ter sido reeleito como deputado pelo círculo de Islington, o líder do Labour defendeu que o resultado eleitoral desta noite deveria ser o suficiente para May se afastar.

“A primeira-ministra convocou as eleições porque ela queria um mandato. Mas o mandato que tem é perda de assentos parlamentares, de votos, de apoio e de confiança”, disse Corbyn aos jornalistas. “Penso que é suficiente para se ir embora e dar lugar a um governo que seja representativo das pessoas deste país”, acrescentou.

Apesar de cauteloso, pois ainda não se conhecia todos os resultados, o trabalhista garantiu que a eleição desta quinta-feira é histórica, tendo sido reeleito pela nona vez com mais de 40 mil votos no círculo eleitoral de Islington North. Este é o maior número de votos alguma vez obtido por um candidato neste círculo eleitoral e a participação a mais elevada desde 1951.

“A política mudou e não vai voltar para a caixa onde estava. As pessoas disseram que estão fartas da austeridade, dos cortes nos serviços públicos”, referiu.

E, no final, Corbyn deixou a garantia de que, independentemente dos resultados, os trabalhistas vão “fazer de tudo para assegurar que o que dissemos nesta campanha e está no nosso programa eleitoral é apresentado ao parlamento”.

Marta Gonçalves | Expresso | Foto Darren Staples / Reuters | *Título de cabeçalho TA
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